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terça-feira, 17 de setembro de 2013

I Pedro


O dualismo: encontrado nas epístolas paulinas e nos evangelhos a respeito deste século e do vindouro, não estão presentes, mas, sim, a tensão escatológica entre o presente e o futuro (já e ainda não). Pois, para Pedro, a morte de Cristo não apenas consiste em um evento cronológico, tampouco, um evento que concederá uma salvação escatológica, é, em si, o cumprimento da promessa messiânica. A glória messiânica está intrinsecamente relacionada aos sofrimentos de Cristo (1.11). A morte de Cristo planejada por Deus antes da fundação do mundo (1.20) inaugurou o fim dos tempos (1.20).

A Ressurreição de Cristo: igualmente partilha deste caráter escatológico, porque Jesus havendo ressuscitado subiu aos céus e está à direita de Deus Pai, isto é, Cristo já assumiu sua lei messiânica e está aguardando que seus inimigos sejam postos por escabelo de seus pés. No reino messiânico de Cristo existe a tão sempre presente no Novo Testamento, tensão entre o já e o ainda não.
A ressurreição de Jesus não é apenas um evento cronologicamente restrito ao passado, e, sim, um evento pelo qual aquele que crê, pode entrar em novidade de vida pela proclamação das boas novas (1.23). Logo, Pedro entende a vida cristã como o poder transformador interior de Cristo.
Ainda assim, o mundo (seu sistema) permanece mau. O diabo “anda em derredor procurando a quem possa tragar” (5.8), assim Pedro demonstra a maneira como vive o crente no mundo, a saber, aberto a perseguições e sofrimentos, por isso, a salvação também é uma questão de esperança. Esperança é uma importante palavra chave em Pedro.

Escatologia: Pedro não usa o termo “retorno” de Cristo, mas emprega por várias vezes a palavra “revelação” de Cristo ressuscitado (1.21). Com essa referência o autor remete a glória messiânica que há de se revelar e que os crentes aflitos desse mundo partilharão (5.1,10). A intenção de Pedro não é a de dar uma descrição detalhada dos fatos escatológicos, mas incentivar os crentes que sofrem a enfrentar tais agruras desta vida de maneira vitoriosa.
O contraste entre o mundo mau e o céu é ponto essencial na epístola, ainda que de maneira direta o termo mundo seja citado apenas duas vezes em 1.20 quando refere-se a criação e em 5.9 ao tratar do mundo habitado. Esse mundo mau que esta por trás do pensamento petrino é o mundo dos homens, devotos a vida de pecado (4.3), sua mente pensa na sociedade degradada e corrupta no meio da qual os homens se encontram. Os cristãos foram libertos de tudo aquilo que os pagãos anseiam (sistema) e seus amigos estão surpresos por eles não mais buscar os prazeres temporais (4.4). Assim, os crentes precisam considerar-se estrangeiros nesse mundo. A Igreja está no mundo, mas enxerga seus costumes pagãos como nocivos à vida cristã. Todavia, Pedro incentiva a submissão às autoridades do mundo (dos cidadãos ao estado 2.13,14), das esposas aos áridos (3.1) e dos escravos aos seus senhores (2.18).

Sofrimento Humano: Pedro não trata os sofrimentos ordinários da vida que todo o ser humano enfrentará, como doenças, acidentes, mas trata os sofrimentos que os cristãos apenas podem sofrer devido a sua fé. As provações (1.6), que são as acusações falsas de práticas maléficas (1.12), ou o sofrimento pode ser meramente por ser crente (4.16). Pedro alerta que não existe nada de estranho nisso (4.12), pois é exatamente o que se deve esperar de uma sociedade perversa (5.9). Ainda que algumas dessas provações sejam atribuídas a satanás (5.8) o apóstolo ressalta que não escapam a vontade de Deus (3.17), pois Deus é o justo juiz do mundo e de seu povo.
Se mesmo Cristo sofreu o que fazem a mais do que seguir o exemplo de seu mestre os cristãos quando enfrentarem essas adversidades (4.13)? Nessa perspectiva Pedro enfatiza a humildade de Cristo (2.23), o que nos remete as próprias palavras de Jesus (Mc 8.34) sobre segui-lo e carregar nossa própria cruz, isso é, partilhar dos sofrimentos de Jesus e, se preciso for, mesmo de sua morte.
Dessa forma, a resposta do crente diante do sofrimento, com essa perspectiva da epístola deveria ser não de passividade, mas de “regozijo”. Pois, dessa forma, demonstra-se que a fé é genuína, ainda que provada pelo fogo, o que realmente deve alegrar os que assim procederem (1.6,7). Pedro parece descrever que qualquer um que sofreu pelo simples motivo de ser crente, é porque já rompeu com seus antigos hábitos e vida de pecado, pois não mais participa dos males de seus amigos (4.3,4).

Cristologia: Pedro mantém uma alta cristologia mesmo que ele só a trate incidentalmente. Em seu enunciado de abertura coloca Jesus na mesma estatura com o Pai, requer uma crença em sua filiação única. Sua preocupação é mais prática do que teológica, por isso, enfatiza o relacionamento dos crentes com Cristo, seu Senhor. Pedro utiliza termos para designar Jesus, que foram usados para referir-se ao Pai no Antigo Testamento. Para que seja estabelecida a posição que Pedro designa ao Cristo, é necessária a doutrina da encarnação.

Vida Crista: Existem duas ênfases a se destacar, que Pedro faz menção em relação à vida cristã. A primeira é a firmeza do sofrimento. Na visão petrina o fato de o mundo ser uma terra estranha para o crente, automaticamente transforma o sofrimento em uma experiência normal. Logo, o sofrimento deve ser suportado de forma paciente e até mesmo com alegria, visto que desce até o crente pelas mãos de Deus. Traz consigo bênçãos, além de conceder a certeza da futura partilha da glória futura de Cristo (4.13).
A segunda é a do bom comportamento (fazer o bem que ocorre quatro vezes em Pedro 2.15,20; 3.6,17, mas não em Paulo). É claro que esse “fazer o bem” não são as boas obras do legalismo judaico, e, sim, uma conduta justa, um contraste com a pecaminosidade pagã (4.2). Este comportamento é um testemunho aos incrédulos e frustrará sua hostilidade (2.15), inclusive podendo ganha-los para Cristo (3.1). Este comportamento inclui um relacionamento justo com outros homens, a submissão as instituições estabelecidas pelo Estado (2.13,14), da família (3.1,6) e dos escravos com seus senhores (2.18). A vida cristã deve se expressar no verdadeiro amor aos irmãos (1.22) e em ternura e compassividade (1.22; 3.8).

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