Propósito:
O propósito de João ao escrever esta epístola foi, pelo menos, triplo:
1 – Chamar à atenção a origem histórica do Cristianismo, com o
intuito de expor e rebater os erros doutrinários e éticos dos falsos mestres
(Gnosticismo);
2 – Dar aos cristãos a certeza absoluta de sua salvação e exortar
seus filhos na fé a manter uma vida de santa comunhão com Deus, na verdade e na
justiça, cheios de alegria (l Jo 1.4) e de certeza da vida eterna (l Jo 5.13),
mediante a fé obediente em Jesus, o Filho de Deus (l Jo 4.15; 5.3-12), e pela
habitação interior do Espírito Santo (l Jo 2.20; 4.4,13).
3 – Desenvolver o conceito do novo
mandamento de Cristo: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos
outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis” (Jo
13.34).
Ênfase
Teológica das Epístolas de João: nasce de uma
preocupação pastoral com seus leitores. Preocupação essa motivada pela
principal controvérsia teológica a respeito da pessoa de Jesus nas igrejas da
Ásia Menor, às quais o apóstolo dirige as epístolas. Tal controvérsia aumentou
tanto que, a ponto de causar uma divisão grave na igreja, resultando na saída
de grande número (talvez até mesmo a maioria e dos mais capacitados e
talentosos) de cristãos confessos (I Jo 2.19) dessas igrejas. João quer tranquilizar
seus leitores. Ele afirma que os que permaneceram ao seu lado, de fato,
permaneceram na verdade em relação à confissão apostólica de quem Jesus é e na
posse da vida eterna (I Jo 2.21,24). Os leitores precisavam dessa garantia em
face da contínua controvérsia com os oponentes dissidentes, cuja cristologia inadequada e heterodoxa
negava a total humanidade de Jesus e a importância de sua vida e ministério terrenos como um exemplo a ser seguido
pelos crentes (2.26; 4.2,3). A cristologia deficiente dos oponentes era tão falaciosa
e suas consequências tão sérias que João chamou seus proponentes de “anticristos”
(2.18,22; 4.3). A mensagem de João para as igrejas é urgente, pois havia grande
risco de mais pessoas serem enganadas pelo ensinamento dos dissidentes (2.26;
3.7).
João deixa claro que esses dissidentes,
independentemente do que afirmam sobre terem um relacionamento com Deus, nunca,
de fato, fizeram parte da verdadeira comunhão dos crentes. Isso ficou evidente quando
da saída deles da comunhão com os crentes: “Saíram de nós, mas não eram de nós;
porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse
que não são todos de nós” (2.19). Na verdade, os citados sectários pertencem ao
mundo, e não à comunhão dos verdadeiros seguidores de Jesus: “Do mundo são; por
isso, falam do mundo, e o mundo os ouve” (4.5).
Desse ponto de vista, se torna mais
compreensível às tendências de João de usar imagens polarizadoras (antíteses ou
opostos), já encontradas no quarto Evangelho. Diversas imagens contrastantes
são utilizadas com intuito de gravar no leitor as explícitas diferenças entre a
teologia ortodoxa e a dos oponentes sectários Gnósticos. João usa pares de
opostos, como luz e trevas e, em especial, amor e ódio, para demonstrar o contraste entre os leitores e os oponentes.
Em uma tentativa de enfatizar o abismo que separa os leitores, crentes
genuínos, dos oponentes, que não o são, traz à cena até mesmo o termo “anticristo”
(2.18,22; 4.3). Para João, a questão cristológica
e a moral, que estão em jogo, são
claras e não existe meio-termo; necessariamente deve-se tomar um partido, ficar
com os oponentes e sua cristologia heterodoxa ou com os apóstolos e a visão
ortodoxa de quem é Jesus.
Como
ter a Certeza de ser Filho de Deus? Os Três Testes:
são eles o 1 - teste moral (da
obediência), 2 - o teste social (do
amor) e 3 - o teste doutrinário (o
teste da crença em Jesus Cristo).
1
– O Teste da Moral – obediência (2.3-6): “nisto sabemos que o conhecemos” (2.3), nesse trecho o resultado da
obra de Cristo é conhecê-lo. Para os gregos o conhecimento era obtido através
da contemplação racional, para os gnósticos, através de uma experiência
mística. Na visão do apóstolo João o conhecimento é obtido através do perdão
dos pecados e consiste em conhecer Deus na pessoa de Jesus. Os que desfrutam de
comunhão com Deus também o conhecem. Este conhecimento está vinculado a
comunhão (1.7), em seu evangelho João afirma: “a vida eterna é essa, que
conheçam a ti por único Deus verdadeiro e a Jesus a quem enviaste”. O quarto
evangelho explicita que conhecer a Deus é experimentar seu amor em Cristo e
viver de forma adequada a esse amor através da obediência.
“Se
guardarmos os seus mandamentos”, entenda-se que João
tem em mente que seus ouvintes já passaram pelo processo do novo nascimento,
logo, ele não está afirmando que qualquer ser humano que viver de acordo com a
“Lei” de Deus será, por isso, salvo. Muitas pessoas observam os preceitos
cristãos, apenas porque consideram isso “o melhor negócio” que lhes concederá a
melhor recompensa.
A expressão “seus mandamentos” não
significa os dez mandamentos ou mesmo a “Lei” do Antigo Testamento, mas
equivale a “guardar sua Palavra” (2.5) e andar como “Ele andou” (2.6), logo,
esses mandamentos são: a verdade de Deus como manifesta em Cristo sua expressa
imagem (Hb 1.3). Dessa forma, o verdadeiro cristão não é aquele que apenas
conhece os ensinamentos e a história de Cristo, e, sim, aquele que os conhece e
que anda de acordo com tais preceitos, isso é aprender e saber que o conhecemos.
Devemos considerar ainda a frase de Cristo que está intrinsecamente ligada com
esse pensamento joanino: “Nem todo que me diz Senhor, Senhor! Entrará no Reino
dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7.21 e
segue-se a explicação do erro de levar uma vida apenas baseada em experiências
sobrenaturais, os que assim vivem transformaram o meio no fim, ou seja, não
adoram mais a Deus e sim os “prodígios” tem para os tais, o status de deidade).
A religião meramente “emocional” (que meramente valoriza o exterior em
detrimento do todo ou mesmo o interior) sem a disciplina moral torna-se
sentimental e a religião intelectualizada igualmente não demonstrará os frutos
necessários.
Guardar “os mandamentos” de Deus
equivale a “andar na luz”. O alvo só pode ser alcançado por aqueles que continuarem
a guardar. Dessa forma, o verdadeiro conhecimento de Deus gera um desejo acima
de todos os demais de obedecer-lhe e conforme mais guardamos sua Palavra mais
nosso amor por Ele é aperfeiçoado (2.15; 3.17; 4,12). Portanto, o “obedecer” e
não o “sentir” é um dos testes perfeitos de conhecimento da pessoa de Deus.
Todavia, devemos entender que todos os “mandamentos” de Cristo foram nos dados
através da motivação do amor, por isso, a única resposta correta a eles é a
resposta do amor. Isto é, por causa disso que Cristo afirmou que os dois
maiores mandamentos estavam intrinsecamente ligados a duas dimensões do amor,
em relação a Deus e aos homens.
Se pudermos acreditar que um homem e uma
mulher entendem o significado de amar e estão dispostos a amarem-se
independente de qualquer situação até que a morte os separe, igualmente podemos
esperar que o cristão entenda que seu amor a Deus seja “não dividido”. Paulo afirmou
que “o cumprimento da Lei é o amor” (Rm 13.10). Entenda-se amor aqui em relação
a Deus.
2
– O Teste Social (do amor) 2.7-11: “nisto todos
conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo
13.34-35) essa foi a marca estabelecida por Cristo para que o mundo saiba que
pertencemos a Ele e que, de fato, foi Ele enviado pelo Pai. Além disso, essa
“marca” não apenas evidencia ao mundo quem são os cristãos verdadeiros, mas,
também, evidencia aos próprios cristãos. Dessa forma, quando percebermos que
amamos aqueles por quem Cristo morreu, então saberemos que somos cristãos.
E é exatamente esse teste que o apóstolo
desenvolve no trecho de 2.7-11 de sua primeira epístola. O apóstolo está
afirmando que uma pessoa que se diz cristão e não ama seu próximo tem o mesmo
direito de se considerar um verdadeiro cristão, com a exata medida que alguém
que não guarda os “os mandamentos de Deus” igualmente pode evocar a si a
nomenclatura de cristão, a saber, nenhuma.
O
mandamento do amor (2.7,8): no teste precedente João chamou a
atenção à obediência que devemos prestar aos “mandamentos” de Deus de uma forma
mais geral, ainda que tenhamos feito a conexão com amor a Deus, no entanto,
agora, ele especifica mais esse quadro ao falar sobre o amor ao próximo.
O
Amor como um antigo mandamento “não escrevo-vos mandamento novo”:
Este “princípio” aqui pode apontar para o início da religião revelada como fora
no Antigo Testamento, ao contrário do que ele faz no capítulo 1 quando utiliza
esse mesmo termo para referir-se ao início do Cristianismo. Embora para que o
consideremos, assim, precisaríamos ter em mente, que João está escrevendo
apenas para os cristãos de berço judeu, visto que apenas esses conheceriam a
religião contida no Antigo Testamento. Por outro lado, se optarmos por entender
que o termo “princípio” mais uma vez remete ao início do Cristianismo,
tornar-se-á difícil entender o contraste que João está fazendo entre o antigo e
novo em referência ao amor como mandamento. Ou seja, o que existe de novo que
foi estabelecido entre o início do Cristianismo e o momento da escrita da
epístola de João ou que ainda, de alguma forma, soa novo? Por essa última dificuldade, isto é, não haver
nada “novo” no ano 90 d.C, é que talvez se torne mais plausível entender aqui a
primeira opção, que diz tratar-se do amor revelado no Antigo Testamento,
considerando que, ou os cristãos gentios se interessaram em ler os escritos do
AT (o que é muito plausível) ou então João não considerou o fato que seus
leitores gentios-cristãos não aprenderam a religião revelada do Antigo
Testamento.
Todavia, o fato é que amor como
mandamento já era conhecido antes da descida de Cristo a terra, “não te
vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo, mas amará teu próximo como a ti mesmo. Eu Sou o Senhor” (Lv
19.18; itálico meu; aparentemente pelo contexto aqui se define “próximo” como
pertencente ao mesmo povo). A esse versículo, Lv 19.18, que Jesus faz referência
como segundo maior “mandamento” e como o primeiro e maior mandamento Jesus cita
Dt 6.5 “Amarás, pois, o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua
alma, e de todo o teu poder”, ao que Cristo acrescenta “de todo teu
entendimento”, mas isso é assunto para o próximo tópico.
Amor
como um novo mandamento: Ao lermos o ponto anterior,
torna-se, quem sabe difícil de imaginar de que forma pode ser novo o mandamento
do amor (com exceção da última frase que nos dá um indício). Ao que respondemos
é novo, porque foi ampliado, reinterpretado e elevado a um nível muito superior
pela pessoa de Jesus. Vamos analisar três formas pelas quais na pessoa de Jesus
esse amor tornou-se novo, além das já citadas.
Primeiro, tornou-se novo em relação à
sua extensão. Assim como, em todas
as épocas, na de Cristo muitos consideravam o amor algo necessário apenas em um
círculo fechado que inclui família e amigos, com o acréscimo ainda, no caso
específico dos conterrâneos e Jesus, a uma nação. Para os judeus ortodoxos o
pecador não deveria ser amado (ainda que os teonomistas possuam essa mesma
visão, embora que qualquer ser humano que sofra nas mão de outro será tentado
ao mesmo), ao contrário, ele é alguém que Deus deseja e tem prazer de destruir
(também entendem assim os calvinistas, não leia-se isso como que se fosse um
preconceito, mas, sim, como apenas a retratação de um fato que nenhum
calvinista negará, visto que apenas o eleito incondicionalmente em sua visão
será alvo do amor de Deus). Os gentios não deveriam ser amados, para os
ortodoxos, pois, foram criados por Deus apenas para irem para o inferno, assim
entendemos o espanto dos tais ao verem Jesus cear com pecadores e conversar com
“gentios” e samaritanos. Enfim, para Jesus o amor ao próximo atinge extensões
inimagináveis e, tal qual, o próprio Cristo descreve na parábola do bom
samaritano, amar ao próximo é amar a todos os seres humanos.
Segundo, Jesus tornou novo o mandamento
do amor em relação à distância. Com
distância entenda-se o preço que se está disposto a pagar. Jesus sendo em forma
de Deus não considerou que isso fosse algo superior a sua missão, então se
esvaziou a si mesmo assumindo forma de servo levando, inclusive, sua servidão
as últimas consequências, a de morrer da forma mais degradante, tanto para seu
povo quanto para a cultura de sua época, na cruz. E tudo isso, por amor, amor
ao Pai, amor ao homem, amor ao mundo (Jo 3.16), é isso que significa mandamento
novo em relação à distância, todavia, não esqueçamos que somos igualmente
instados a possuirmos o mesmo sentimento que houve em cristo (Fp 2.5).
Terceiro, o amor em Jesus se faz novo
quanto a sua intensidade. Pois, na antiga dispensação do Antigo Testamento não
era possível ainda porque Cristo passou a viver dentro daqueles que o seguem, o
que não acontecia na antiga aliança, assim sendo, a intensidade com que um
cristão é capaz de sentir amor pelo próximo é sem precedentes.
A
vida de amor (2.9-11): João estabeleceu três exemplos daqueles
para quem o teste do amor deve ser aplicado.
Confissão
sem amor: “aquele que diz que está na luz”, alusão direta aos
gnósticos que se consideravam os iluminados, assim como, é claro, as demais
referências. É importante lembrarmos que os gnósticos não deixavam de se
considerar cristãos, por isso, mais uma vez, exatamente como Cristo houvera
feito, a crítica continua aos de “dentro”, ou seja, a preocupação do apóstolo é
em manter o corpo de Cristo saudável e separado dessa heresia. Como pode alguém
“julgar” os gnósticos ou mesmo outras pessoas que confessam o cristianismo? Eis
a questão central, existe um hiato entre “confessar” o cristianismo e ser
cristão e exatamente para preencher essa lacuna que João nos dá essas
instruções, para que possamos “julgar segundo a reta justiça” (Jo 7.24). Dessa
forma, confessar ser cristão sem amar o próximo serve meramente como evidência
que a pessoa que assim procede, ainda não conheceu Deus. “ainda que tivesse o
dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda ciência,,, e não
tivesse amor nada seria” (I Co 13.2). A “luz” (conhecimento ou qualquer coisa
que possa ser boa) de um homem são trevas até que seja aquecida com amor.
Amor
brotando da luz: O segundo exemplo de João é positivo
“aquele que ama seu irmão está na luz, e nele não há escândalo” (2.10). A ideia
de escândalo aplica-se ao indivíduo no sentido de que se ele ama caminha na
luz, e assim não causa escândalo, logo o efeito do amor sobre o ódio no
indivíduo é cumulativo, quanto mais eu andar na luz mais amarei e se assim
continuar, mais eu serei impelido a amar e permanecer na luz. É isso que João
introduz nesse versículo.
Ódio
levando a mais trevas: “Mas aquele que aborrece a seu
irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as
trevas lhe cegaram os olhos” (2.11). Tendo no exemplo anterior falado a
respeito do que ama seu irmão e as consequências disso, agora João se volta à
explicação natural daquele que odeia seu irmão e suas consequências. Existem
três consequências nesse caso.
A primeira consequência está na natureza
de uma observação: aquele que odeia seu irmão está em trevas. A segunda é que ele anda em trevas. Isso nos mostra que é uma ação contínua inacabada.
Então esse não é apenas um homem que falhou em amar seu irmão e que, por isso,
não tem conhecimento de Deus, também significa que tudo o que ele faz está em
trevas e é caracterizado por trevas. Em outras palavras, a pessoa está imersa
em trevas, morto em transgressões. E, em terceiro João nos diz que o homem que
assim procede, embora continue em sua caminhada de trevas, ele o faz sem ter o
conhecimento claro de um objetivo. Ele prossegue, pois, o caminho da pessoa sem
Deus é o de uma atividade sem descanso. Jesus igualmente afirmou o mesmo em outra
situação “quem está em trevas não sabe para onde vai” (Jo 12.35).
O quadro que esse trecho da epístola nos
passa é mais ou menos o seguinte, os homens andam em trevas, ainda que a
verdadeira luz esteja brilhando, sem um objetivo, ainda que o objetivo de Deus
em Cristo seja muito claro. Em outros termos, quem confessa que conheceu a
Cristo, sem, contudo demonstrar em sua vida esses claros sinais que, de fato, o
conheceu é comparável a um homem que em meio à luz do holofote mais potente
fechou seus olhos e já não mais pode chegar ao destino desejado, porque nada
enxerga, embora esteja em um ambiente iluminado. E, assim, não existe esperança
para essas pessoas a não ser em Deus que pode abrir os olhos dos “cegos” e
direcionar o pecador em um caminho de retidão.
3
– O Teste Teológico (o teste da verdade, da crença em Jesus) 2.18-27:
o pós-modernismo dentre tantas peculiaridades que o descrevem, talvez a que
mais salta aos olhos seja a questão da verdade.
Quanto a isso se afirma, do ponto de vista pós-moderno, que a verdade é algo
que pode significar alguma coisa para alguém enquanto nada diga a outro. Enfim,
é uma relativização do conceito de algo absoluto, nada, é para sempre, pois, a
qualquer momento uma nova evidência pode descaracterizar uma dessas verdades de
um grupo.
Para a mentalidade pós-moderna é uma
verdadeira afronta descobrir que o cristianismo, sobretudo se observado de sua
expressão neotestamentária, move-se através de um conjunto de pressuposições
completamente diferentes. Isso é, quando a Bíblia, escrito fundamental do
cristianismo, fala em verdade descreve o que é absoluto, duradouro e mesmo
eterno, e que está ligado a todos, aquilo que é verdade hoje e sempre será. E,
por isso, que o cristão prega que a Bíblia contém proposições verdadeiras, que
Deus é verdadeiro e que Cristo é a verdade. Nessa epístola o apóstolo afirma
que conhecer a verdade é uma das evidências da nova vida proveniente de Deus
dentro de cada cristão. A verdade absoluta não é subjetiva ou existencialista,
pois, caso fosse o que seria dessa verdade se, por exemplo, o indivíduo que se
chama “eu” não houvesse existido? A verdade absoluta consta nas Escrituras e a
esta é que o cristão deve dar crédito e atenção.
Então mais uma vez
João demonstra de que forma alguém que se considera cristão pode ter certeza,
que realmente não tem proferido o nome de Cristo de maneira vã. A forma com que
João afirma poder se realizar esse teste de veracidade cristã é levando em
consideração a importância que o indivíduo concede a verdade de Deus, que fora
plenamente revelada em Jesus. O verdadeiro cristão, segundo o apóstolo,
acreditará que Jesus é o Deus encarnado e perseverará nessa crença até o fim de
sua vida. Quem não se enquadra nessa confissão sobre a pessoa de Jesus é
nomeado como um “anticristo”, que significa “aquele que está contra” ou “aquele
que tomou o lugar de Cristo”, qualquer uma dessas expressões é verdadeira para
descrever pessoas nessa situação. Apenas para constar, especificamente nesse
contexto João não tem em mente nenhum grupo de pessoas destacadas que tomará o
domínio mundial, mas pessoas que eram cristãs, todavia, abandonaram a
convivência com os irmãos, ou pelo menos a confissão “ortodoxa” sobre a pessoa
de Cristo, para viverem de acordo com essa crença errônea.