Correntes
Interpretativas: Não poucos têm buscado transformar o
Apocalipse em um livro de adivinhações e misticismos.
Historicista:
Desde sempre alguns mais exaltados em sua geração se valeram das profecias
contidas nesse livro, para de alguma forma poder antever os acontecimentos
pertencentes ao seu próprio cotidiano ou mesmo de forma mais ampla associando
aos eventos relacionados à humanidade. E este tipo de interpretação é muito usada
entre os que têm uma visão apenas histórica
do livro. Estes indivíduos vêm comparando o Apocalipse com a história da Igreja
desde o primeiro século, para realçar coisas como o aparecimento do papado e as
invasões muçulmanas.
Desta forma, não entendem que a Grande
Tribulação não acontecerá no final dos tempos, pois “soltaram” os eventos do
livro no passar da história da Igreja. Assim, cada geração de eruditos vem
retrabalhando a interpretação do Apocalipse, numa tentativa de encaixar as
profecias em suas respectivas épocas.
Preterista:
Existem outros intérpretes que encaram Apocalipse como preterista, e relacionam suas profecias com os eventos registrados
no final do primeiro século, tendo-se Roma e seus imperadores mais destacados
como contexto histórico. Ou seja, os preteristas acreditam que a maior parte do
livro de Apocalipse cumpriu-se imediatamente ao período que se seguiu de sua
escrita, ou mesmo simultaneamente a ele. Todavia, diga-se, que a associação entre
textos e eventos realizada pelos preteristas é muito subjetivo e precário.
Idealista:
Há também intérpretes que rejeitam a tentativa de se identificar os eventos do
livro com as fontes históricas. Esses preferem uma visão idealística do Apocalipse. Entendem que os símbolos e figuras são
somente representantes da disputa progressiva entre o bem e o mal, com uma única
literal verdade, a saber, a certeza do triunfo derradeiro da justiça. Eles não
creem no cumprimento literal de nenhum evento do livro. Contudo, ainda que,
sim, haja muitos eventos simbólicos e outras tantas figuras e símbolos que
descrevem outros eventos, são estes acontecimentos reais. O Anticristo é
chamado de a besta, mas será uma pessoa real, e cumprirá as predições feitas
sobre ele noutras profecias, tais como II Ts 2.3-12, onde se diz que Cristo
virá pessoalmente trazer o triunfo final.
Futurista:
A maioria dos pentecostais e fundamentalistas têm uma visão futurista do livro. Sob esta visão,
tudo, ou quase tudo que é descrito após o capítulo quatro, acontecerá
literalmente em um curto período de tempo (sete anos) após o término da
dispensação da Igreja (Graça). Será um tempo de tribulação, ira e julgamento,
que terá o seu clímax com o retorno de Jesus em glória para destruir o exército
do Anticristo, e estabelecer seu reino milenial.
Encontramos este período de sete anos
nas Setenta Semanas de Daniel 9.27. Intérpretes há que digam ser esse tempo, ao
menos de forma mais explícita, apenas os últimos três anos e meio desses sete anos.
Período este chamado também de a Grande Tribulação. Logo, quando os futuristas se
referem a Tribulação, ou da Grande Tribulação, não estão se referindo às
tribulações comuns, sofrimentos e pressões, que são parte do viver diário da
história da Igreja neste presente século. Durante a Grande Tribulação, é bom
que se diga, será o próprio Deus quem trará a ira e o julgamento sobre o mundo
que rejeita a Cristo. A perspectiva de um curto período de tribulação ao findar
a presente era, é sustentada por todos os futuristas, sendo eles ou não
dispensacionalistas.
Os futuristas igualmente
cometeram deslizes ao divulgar suas interpretações do Apocalipse. De forma
semelhante a dos historicistas, alguns vêm estabelecendo datas para
acontecimentos futuros, ou buscando descobrir qual será o próximo evento, ou
identificar quem será o Anticristo com sistemas e indivíduos. Ainda assim, diga-se
de passagem, que, os futuristas possuem mais seriedade com a realidade do
julgamento e a certeza da segunda vinda de Cristo do que os demais grupos. A visão
futurista, de acordo com a opinião deste que vos escreve, é a que melhor se
encaixa nas profecias do Antigo Testamento; é também a que possui menor
quantidade de problemas de interpretação.
Além das categorias supracitadas, existe
também a divisão dos grupos interpretativos em relação a sua visão a respeito
do milênio (os mil anos mencionados repetidamente no capítulo 20). Cite-se que
a forma como se interpreta o milênio afetará a perspectiva total em relação ao
livro de Apocalipse. Vejamos as principais correntes interpretativas
concernentes a essa questão.
O amilenismo
acredita que não haverá milênio, pelo menos no que tange a terra. Parte de seus
proponentes afirma que o Apocalipse é simbólico, por isso, não há sentido algum
em se buscar nele um milênio literal. Outros veem os mil anos como uma
realização a cumprir-se no céu. Entendem o número "mil" como um
ideal; um período indefinido. Então, aguardam que o atual período da Igreja encerre
com a ressurreição e julgamento geral, tanto do justo como do ímpio,
seguindo-se imediatamente o reinado eterno no novo céu e na nova terra.
Grande parte dos amilenistas consideram
Agostinho (o bispo de Hipona, no Norte da África, 396-430 d.C.) um dos
principais promotores do amilenismo. E assim Como Agostinho, se apropriam das
profecias do Antigo Testamento concernentes a Israel, e as espiritualizam,
aplicando-as à Igreja. Mas vejamos o exemplo de Ezequiel 36. Neste trecho, Deus
promete restaurar Israel por causa do seu santo nome, embora o hajam profanado.
Todavia, esse texto refere-se à nação de Israel. Este sistema, além de espiritualizar além de limites
aceitáveis, não deixa espaço nem para a restauração
de Israel (como explicam a ascensão do mesmo desde 1948?) nem para o
reinado de Cristo sobre a terra (forçando novamente a espiritualizar o texto, mas desta vez, Apocalipse 20). Reinado este,
diga-se de passagem, explicitamente profetizado no Antigo, assim como, no Novo
Testamento.
O pós-milenismo,
outra corrente, começou a espalhar-se a partir do século XVIII. Seus proponentes
entendem o Milênio como uma extensão do período atual da Igreja. Afirmam que o
Evangelho ganhará todo o mundo para Cristo, a Igreja então, assumirá o controle
dos reinos seculares. Após isto acontecerá à ressurreição e o julgamento geral
tanto do justo como do ímpio, seguido pelo reinado eterno no novo céu e na nova
terra. O pós-milenismo, semelhantemente ao amilenismo, espiritualiza as
profecias da Bíblia, excluindo à restauração de Israel ou ao reinado literal de
Cristo sobre a terra durante o Milênio. Menospreza o fato de que os profetas do
Antigo Testamento (e o próprio Cristo) mostraram que o Reino será introduzido
através de um julgamento. A estátua de Daniel dois, por exemplo, para os tais,
diz respeito ao sistema mundial atual. Mas, não percebem os pós-milenistas que
a rocha que representa o Reino de Deus, não transforma a estátua, e, sim,
destrói-a por completo. E apenas quando se concretizar essa profecia é que o
Reino de Deus encherá a terra.
Já o pré-milenismo interpreta as profecias do Antigo e do Novo
Testamento de maneira tão literal quanto possível, observando, acertadamente,
se o contexto o permite. Para tais intérpretes a forma mais simples de se entender estas profecias
é colocando o retorno de Cristo, a ressurreição dos salvos e o Tribunal de
Cristo antes do Milênio. Após este, Satanás será momentaneamente solto para
enganar as nações, mas será logo depois derrotado, para assim permanecer
eternamente. Depois disso, acontece o julgamento do Grande Trono Branco, que
sentenciará o restante dos mortos. Somente então, teremos o reino eterno no
novo céu e na nova terra.
Em relação à interpretação do livro de Apocalipse
como um todo, muitos pré-milenistas no século XIX eram historicistas. No
entanto, a considerável maioria dos pré-milenistas, atualmente, é futurista.
Propósito:
Uma
última chamada aos não cristãos: A finalidade do livro
é conceder ao mundo uma última declaração divina de que Jesus é o Filho de Deus
e que há de triunfar sobre todo inimigo e será o Governador do Universo durante
a eternidade. O Apocalipse faz o último convite escrito por “Inspiração Divina”,
conclamando aos pecadores a serem reconciliados com Deus por meio da fé em
Jesus Cristo. A advertência é feita às nações e seus reis muito antes da
revelação final ser escrita: "Beijai o Filho" (Sl 2.10-12). Todavia,
aqui se reveste de um novo vigor, pois o Filho já ressuscitou, “recebeu” todo o
poder e está prestes a voltar. Ainda neste convite de graça (Ap 22.17), existe
também o aviso da mais voraz e irrevogável sentença: "Quanto, porém, aos
covardes, incrédulos, abomináveis, assassinos, impuros, feiticeiros, idólatras
e todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e
enxofre, a saber, a segunda morte" (Ap 21.8). A escolha será:
"Venha... receba de graça" (Ap 22.17) ou "será lançado para
dentro do lago de fogo" (Ap 20.15). Na presença de Cristo não entra
nenhuma coisa imunda, ou seja, é preciso lavar nossas vestes no sangue do Cordeiro
(Ap 22.14; 12.11; 7.9-17).
Aos
crentes, esta profecia tem um propósito duplo de admoestação e de alento.
Repreende e anima, esquadrinha e exorta. Incentivando e
estimulando a serem santos e ativos diante de Deus, gratos pela salvação e a
bem-aventurada esperança. Não apoia a ideia errônea de que a salvação eterna das
almas é determinada pelas obras feitas pelo indivíduo (pelagianismo). A sua
relação com o Cordeiro de Deus é indispensável. A forma de doutrinar os
cristãos é por meio de juízos diretos descritos nas cartas as sete igrejas da
Ásia; o Senhor Jesus Cristo elogiando
ou reprovando, os ensinamentos
proféticos do futuro, findando com a descrição do Juízo Final e visão da Cidade
Eterna, a Nova Jerusalém, com seu divino Rei. É fato que cada uma das partes do
livro, encontra uma aplicação para o cristão atual, assim como, cada trecho da
Escritura. Através de uma acurada observação das falas do Mestre, ora
repreendendo, ora incentivando, podemos descobrir o que deseja Ele que façamos.
Como
deve o crente tornar-se para agradar seu Senhor:
O livro demonstra qual será o papel dos crentes atuais nos eventos finais, a
saber, estarão plenamente remidos, por essa razão, fazemo-nos mais sábios
aprendendo a dar a glória devida a Cristo, ainda que de alguma forma ainda não
usufruamos na totalidade dessa revelação, podemos ter a certeza de que irá
ocorrer. Se durante essa vida pudermos nos conduzir com a consciência desperta
de que o Senhor nos acompanha em cada uma das realizações que efetuamos, então,
e somente assim, teremos aprendido como é viver nessa nova cidade prometida no
Apocalipse onde não há necessidade de sol, lua ou lâmpada, pois a glória de
Deus a ilumina (Ap 21.23). O Cristo, Juiz do capítulo 1, é o Cordeiro
iluminador do capítulo 21. Outra forma que este último livro da Bíblia ajuda o
cristão é revelando detalhes sobre o futuro. Apresenta um panorama ou
perspectiva dos eventos do fim da História que, de outro modo, o ninguém teria.
Ainda que o livro faça uso de uma linguagem figurada e de símbolos, que em sua
maioria são ou serão explicados ainda aqui nesta vida mesmo e nas Escrituras
Sagradas. Uma questão de importância inigualável é que Jesus Cristo é o
Vencedor, vencerá todos os inimigos e levará o plano divino a cabo de maneira
triunfante.
Expandir
e explicar assuntos já tratados por João: Enquanto que no
Evangelho de João 14.1-3 diz que o Salvador prometeu aos Seus voltar para
levá-los, a estarem com Ele no lugar que Ele mesmo prepararia e exortou-lhes
ter nEle a mesma fé que tinham em Deus. Nos últimos capítulos do Apocalipse,
lemos sobre este lugar que o Redentor está preparando para os Seus. João também
disse que ainda não se manifestou o que nós, filhos de Deus, havemos de ser,
mas sabemos que quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque O
veremos tal como Ele é (I Jo 3.2). No Apocalipse, todavia, percebemos a maneira
como Cristo há de manifestar em forma visível e gloriosa. Há diversas outras
declarações no Evangelho de João a respeito do futuro e que no Apocalipse visam
ser ampliadas ou explicadas. Por exemplo: João 3.16 fala da maneira de receber
a vida eterna, e não perecer. Porém, no Apocalipse está registrada a explicação
a respeito dessa salvação e perdição. João 11.25-26 ensina o mesmo acerca da
ressurreição ou do arrebatamento, Paulo em I Tessalonicenses 4 e 5 confirma, e
está de acordo com este último livro profético, isto é, que só os crentes terão
parte na felicidade eterna. Também Cristo mencionou a Sua volta em João 14.28.
Veja-se João 6.40,44,54.
O
Juízo divino vindouro: Como não poderia deixar de ser, a
perspectiva mais ampla sobre o futuro, que também foi mencionado no Quarto
Evangelho, que ocupa a maior parte do Apocalipse é o juízo exercido por Jesus Cristo. Se quando de sua vinda a terra, o
Mestre não viera para condenar, e, sim, para salvar o mundo (3.17), agora da perspectiva
do Apocalipse, Jesus está entronizado e julgando os habitantes do mundo. Se em
seu primeiro sermão que proferido na sinagoga de Nazaré, o Mestre havia dito que
tinha vindo para "apregoar o ano aceitável do Senhor" citando Isaías
61.2 (Lc 4.19). Agora no Apocalipse notar-se-á que chegou o tempo a que se
refere o resto de Isaías 61.2 "o dia da vingança do nosso Deus". Em
Amós 5.18-20 diz "Ai de vós que desejais o dia do Senhor! Para que quereis
vós este dia do Senhor? Trevas será e não luz". Veja também Sofonias 1.
14; 2.2.
Nos capítulos 2 e 3 do Apocalipse o juízo começa com a casa de Deus (I Pe
4.17-18). Mas, de Apocalipse 6.1 até 19.21 lemos sobre um juízo direcionado aos que não creram em Jesus, castigos, pragas,
dores, pestilências, entre outros, cada vez mais severos, até que os homens
busquem a morte, mas esta se distancia deles. Além disto, virá após o reino
milenar, o tempo do juízo final,
Cristo assentado sobre o Grande Trono Branco, todo o mundo diante dEle, para o
juízo definitivo. Por esta razão o Apocalipse
é chamado de livro de juízo, de vingança,
de terror. Embora que alguns não
vejam nele mais que castigos e pragas e tenham a ideia que Deus dará um fim à
história humana, através de grandes penas. O evento descrito no capítulo 19 mostra
os santos e os seres celestiais alegres ao ver o julgamento da grande
prostituta dizendo: “Aleluia... Verdadeiros e justos são os seus juízos, pois
julgou...”.
Este livro dá ao mundo a mensagem divina
de que o fim de todas as coisas se
aproxima. As condições atuais não continuarão sempre assim. A paciência de
Deus não durará eternamente. O dia do juízo é inevitável. O diabo e os seus
perderão a batalha e sofrerão eterna perdição. Jesus Cristo gozará a vitória
que obteve na cruz e com os Seus reinará eternamente.
Esboço:
I. As cartas às sete igrejas da Ásia.
1.9 – 3.22.
II. O livro com os sete selos e os
acontecimentos terrenos que ele anuncia. 4.1 – 6.17.
III. Os juízos anunciados pelas sete
trombetas. 7.1 – 9.21.
IV. A hora mais negra da história
universal. 10.1 – 13.18.
V. As sete taças do juízo. 14.1 – 16.21.
VI. Babilônia e Armagedom. 17.1 – 19.21.
VII. O Milênio; o Juízo Final; a Nova
Jerusalém e a Eternidade. 20.1 – 22.5.
Teologia
do Apocalipse: Falar a respeito de todos os temas do livro
não é trabalho para menos do que um livro, por isso, elencaremos três assuntos
largamente tratados.
O
problema do mal: No livro de Apocalipse se percebe o que
acontecia nos bastidores enquanto o crente enfrentava sofrimentos nessa vida. Todavia,
para que não se caia no erro de supervalorizar ou menosprezar a participação
satânica nos eventos concernentes aos crentes, se devem considerar duas
questões importantes. Em primeiro lugar a Soberania
divina, que significa que nada, nem mesmo a operação satânica, foge ao controle
de Deus. E, em segundo lugar, a Liberdade
humana (livre-arbítrio para os arminianos; livre-agência para os
calvinistas), liberdade pressupõe poder ou não realizar determinada ação e com
isso, sofrer as consequências da mesma. Desde sempre, os intérpretes
reconheceram a tensão bíblica entre ambas as verdades, somente em tempos muito
modernos que se desenvolveu a concepção determinista,
não sendo, por exemplo, defendida pelos reformadores do século XVI.
Mas, o que antes do período da Grande
Tribulação é tido apenas como uma verdade teórica, no livro do Apocalipse se
mostra abertamente a resistência satânica contra tudo o que provenha de Deus
(Ap 12.11) na luta do Dragão contra a mulher (ainda que a mulher do ponto de
vista dispensacionalistas represente Israel, serve como figura para a Igreja
também).
A
visitação da ira: É no livro de Apocalipse que temos a
descrição mais apurada do fato de que Deus antecipará sua Ira eterna e vindoura
em eventos simbólicos descritos como selos, trombetas e taças.
Três fatores devem ser destacados ao
falar da Ira de Deus explanado no Apocalipse.
Primeiro, as dores são dirigidas contra
os homens que traziam o sinal da besta e adoravam sua imagem (16.2).
Segundo, as pragas tem um propósito misericordioso
(9.20; 16.9,11).
Terceiro, há um grupo selado que está
protegido dessas pragas e que não sofre a ira de Deus, a saber, os doze mil de
cada uma das doze tribos de Israel (7.1-8).
A
vinda do Reino: A vinda do Reino de Deus é mostrada de
duas formas, a destruição do mal e a bênção da vida eterna.