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quarta-feira, 10 de julho de 2013

Cânon Bíblico


Este assunto trata a respeito do por que os 66 livros compõem a Bíblia, como ficaram de fora os chamados livros “ausentes” entre outros importantes temas.
O assunto da canonicidade é o segundo grande elo da corrente que vem de Deus até nós. Enquanto, a inspiração é a forma pela qual Deus concedeu a Bíblia sua autoridade, a canonização é o processo pelo qual a Bíblia recebeu sua aceitação definitiva. Canonicidade é o estudo que fala sobre o reconhecimento e da união dos livros que nos foram dados por inspiração de Deus. Uma coisa é o profeta receber uma mensagem da parte de Deus, no entanto, outra bem diferente é o povo reconhecer que tal mensagem realmente procede de Deus.

Definição do Termo: A palavra “Cânon” deriva do grego “kanwn” (transliterado fica “Kanôn”), que significa “medida ou padrão”. E esta palavra grega se origina da palavra hebraica (“qaneh”), que significa “vara ou cana de medir”. O caule da cana servia para como material de construção, material de escrita e medida. Esta planta era preparada como varas de comprimentos específicos. Estas varas eram então usadas para fazer medições da mesma forma que atualmente usamos réguas ou metros de madeira ou outro material. A vara de medir mais comum possuía cerca de três metros. Partindo do significado literal de tais palavras, é que se chega a uma utilização de um sentido mais amplo das mesmas. Por exemplo, mesmo no período anterior ao do Cristianismo, a palavra “Cânon” já denotava o sentido de “padrão, norma”. Já no Novo Testamento esta palavra aparece com o seu sentido figurado exposto acima, isto é, “padrão, regra de conduta” (Gl 6. 16).

Determinação da Canonicidade: Haja vista, que constantemente somos questionados pela “razão da esperança que há em nós” (I Pe 3.15; alteração e grifo meu), é importante sabermos qual é o fator determinante para o reconhecimento da canonicidade da Bíblia, no entanto, neste processo veremos também algumas teorias erradas sobre este tema. Iniciemos pelos falsos conceitos: 1 – A Idade Determina a Canonicidade: Esta teoria não pode se firmar, pois, houve diversos livros antigos, inclusive citados pela própria Bíblia, que não entraram no Cânon, por exemplo, o livro dos justos (Js 10.13; João Ferreira de Almeida, versão RA) e o livro das guerras do Senhor (Nm 21.14). Além disso, não são poucas as referências que os livros sagrados tenham sido aceitos imediatamente e não apenas depois de alcançarem determinada idade. 2 – A Língua Hebraica Determina a Canonicidade: Esta teoria é igualmente insatisfatória, pois é amplamente conhecido que diversos livros escritos na língua hebraica não entraram no Cânon, a demais, mesmo nos livros reconhecidamente canônicos existem trechos que não foram escritos em hebraico, mas em aramaico (Dn 2.4b - 7.28; Ed 4.8 - 6.18). 3 – A Concordância com a Torá Determina a Canonicidade: Pelo fato de Deus não poder mentir ou contradizer a si mesmo, certamente que nenhum livro que não concorde com a Torá não poderia ser sagrado. No entanto, esta teoria falha ao desconsiderar dois pontos importantes. Em primeiro lugar, não é a Torá que determina se os demais livros são ou não canônicos, mas, o que determina é se eles vieram ou não da parte de Deus, bem como é isto que determina a sacralidade da Torá também. E, em segundo lugar, muitos outros textos que estavam de acordo com a Torá não foram aceitos como canônicos, a se exemplificar o Talmude e Midrash. 4 – O Valor Espiritual Determina a Canonicidade: Aqui se repete a assertiva feita acima, a saber, se é verdade que nenhum livro Sagrado é irrelevante espiritualmente, também o é que nem todos os livros com algum valor espiritual foram incluídos no Cânon, como os Apócrifos bem o demonstram. Mas, o que mais destaca o erro desta afirmação é o fato de que ela confunde a causa e o efeito, isto é, não é o valor espiritual que determina a canonicidade de um texto, mas sim, é a canonicidade que determina seu valor espiritual.
Em contraposição a estes argumentos, a verdade é que justamente a Inspiração determina a canonicidade de um escrito. Ainda em outras palavras, os livros da Bíblia não são considerados Divinos porque nos mesmos foi encontrada alguma virtude, mas sim, eles são valiosos devido ao fato de terem vindo da parte de Deus. A canonicidade é determinada por Deus e reconhecida pelos homens de Deus. É claro que o povo de Deus usou alguns métodos para reconhecer os livros sagrados, no entanto, ressalto que estes métodos não podem assumir o papel da Inspiração na canonização, pois um livro apenas pode ser canônico se houver vindo da parte de Deus. Pois, de outra forma, alguém poderia tentar forjar um livro usando os requisitos acima expostos, contudo, como a Inspiração é prova cabal, este livro forjado não poderia subsistir. Dito isto, vejamos quais forma estes métodos de reconhecimento: 1 – O Livro foi Autorizado? Cada livro da Bíblia traz consigo uma reivindicação da autoridade divina, ora ela se expressa assim: “Assim diz o Senhor”. Em outras passagens, um tom de exortação revela sua origem divina, nos escritos de ensino a declaração divina vem em forma de ordenança ao crente de como deve proceder, já nos históricos a autoridade divina manifesta-se na demonstração da maneira que Deus tem agido ao passar dos séculos. Mas, ficamos ainda com algumas incógnitas, pois, alguns livros não possuíam expressões tão explícitas da autoridade divina, tais como, “a Palavra do Senhor veio a mim”, ou “o Senhor me disse”. Um exemplo de livro sem esta explicita autorização é o de Ester, mas, neste caso a inserção no Cânon foi posterior, quando se observou que o destino do Povo de Deus havia sido dirigido pelo Senhor. .2 O Livro é Profético? Com isso, o que quero dizer é que o Espírito Santo moveu algumas pessoas a, conhecidas como profetas (II Pe 1.20,21), escrever a Bíblia. Todos os autores da Bíblia ou possuíam um dom profético, ou uma função profética, mesmo que não se ocupassem integralmente ou costumeiramente como profetas (Hb 1.1). Paulo é um bom exemplo desta verdade, na sua carta a Galácia ele conclama aos gálatas que recebam sua carta, pois ele era “apóstolo (não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos)” grifo meu; Gl 1.1. Paulo não era um homem qualquer, mas um apóstolo (“apostoloV”, apóstolo – literalmente “enviado” ou “profhthV” profeta – “proclamador de mensagem divina”, pois nesse caso Paulo está escrevendo a mensagem da parte de Deus). 3 – O Livro é Digno de Confiança? Como já observamos até este ponto, qualquer documento que contiver algum erra factual ou doutrinário, não pode ter sido Inspirado por Deus. Deus não pode mentir, suas Palavras são coerentes e verdadeiras. Deste ponto de vista, os crentes Bereanos realizaram um ótimo trabalho ao compara as palavras de Paulo com os ensinos do Antigo Testamento, pois, se é verdade que a mera concordância com ensinos anteriores e canônicos não tornaria um escrito Sagrado, igualmente o é, que a discordância com um ensino anterior seria um excelente indício da falsidade das palavras de Paulo. Da mesma forma se realizou esta pesquisa entre as cartas de Tiago e Paulo (afinal, ou obras? “Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé se ela não vier acompanhada de ações? Será que essa fé pode salvá-lo?” Tg 2.14, versão NTLH) e da epístola de Judas (citação de livros pseudepigráficos, que significa “escrito espúrio” ou “falsa autoria”), e, claro, os demais do Novo Testamento. 4 – O Livro Pode Mudar Vidas? O quarto teste era um pouco menos explícito que os demais, no entanto, não menos importante, a saber, o texto era capaz de mudar vidas (Hb 4.12). O Senhor Jesus disse: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.32), falsos ensinos ou livros não têm a capacidade de libertar, mas, apenas a verdade indelével pode fazê-lo. 5 – O Livro foi Aceito pelo povo de Deus para o qual foi Inicialmente Escrito? A marca final de um texto canônico era o reconhecimento por parte daqueles que o receberam inicialmente. Gerações posteriores se empenhavam no esforço de descobrir se aqueles a quem os livros foram dirigidos de forma primária, utilizavam estes mesmos livros como Palavra de Deus.

Cânon no Antigo Testamento: O início do Cânon bíblico ocorreu com os dez mandamentos mais ou menos em 1450 a.C. imediatamente após Moisés recebê-lo no monte Sinai (Êx 31.18), eles foram aceitos como Palavra de Deus e guardados na Arca do Concerto (Dt 10.5), desta forma, constituíam os termos do Pacto entre Deus e seu povo. Gradativamente essa coleção de Escritos Sagrados foi aumentando, o próprio Moisés acrescentou Palavras que fossem guardadas ao lado da Arca (Dt 31.24-26). Após a morte de Moisés Josué acrescentou também escritos a Lei de Deus (Js 24.26). Para descumprir uma ordem enfática, a saber, a que consta em Dt 4.2 “nada acrescentareis às palavras que vos mando”, certamente Josué teve a certeza de que ele não o fazia por vontade própria, mas por Inspiração divina.
Mais tarde, outros homens que exerciam o ofício profético, igualmente acrescentaram ao Cânon palavras vindas de Deus, vejamos alguns: 1 – “Declarou Samuel ao povo... escreveu-o num livro e o pôs perante o Senhor...” (I Sm 10.25). 2 – “Os atos do rei Davi... estão escritos nas crônicas, registradas por Samuel, o vidente, nas crônicas do profeta Natã e nas Crônicas de Gade, o vidente” (I Cr 29.29). 3 – Quanto aos mais atos de Ezequias... eis que estão escritos na visão do profeta Isaías (II Cr 32.32) . 4 – Assim fala o Senhor, Deus de Israel: Escreve num livro todas as palavras que eu disse (Jr 30.2). E tantas outras passagens que demonstram esta verdade.
O conteúdo do Cânon do Antigo Testamento continuou aumentando, Ageu 520 a.C., Zacarias 520-518 a.C. e Malaquias 435 a.C. são as datas aproximadas dos últimos profetas do Antigo Testamento.

Cânon no Novo Testamento: Ao se começar a falar em Cânon no Novo Testamento, se faz necessário citar, ainda que de passagem, a pessoa de Marcião, pois, ao que tudo indica, ele foi o primeiro no sentido de reunir uma coleção canônica dos escritos mais antigos do Cristianismo. Marcião foi filho de um bispo, por isso, educado desde criança nos padrões do cristianismo e possuidor de grande riqueza. Marcião, por justa causa, foi considerado um herege, isto porque, ele acreditava que havia dois deuses um o “demiurgo” havia feito o homem e criado a terra, e, este deus operou no período do Antigo Testamento, sendo um deus rancoroso e que se regozijava com o derramamento de sangue. Já no tempo do Novo Testamento, o deus que estava em ação era um deus amoroso, Jesus Cristo, que ao morrer adquiriu o direito de conduzir os homens a sua presença no paraíso. Por ter essas idéias, Marcião afirmava que qualquer influência judaica no Cristianismo, deveria ser encarada como um acréscimo ruim, por isso, quando ele organizou seu próprio Cânon, apenas utilizou o evangelho de Lucas e os escritos de Paulo, todos corrigidos e editados no sentido de se descontaminar de qualquer influência judaica, evidentemente. Embora, provido de idéias no mínimo absurdas, Marcião foi muito útil para o desenvolvimento do Cânon neotestamentário, pois a partir de sua organização foi que o processo para realmente determinar, quais documentos possuíam a marca da Inspiração divina se apressou.
Apenas gradualmente se desenvolveu o conceito atual de 27 livros Inspirados, alguns destes demoraram mais tempo a ser reconhecidos, é o caso de: Evangelho de João, Apocalipse, epístolas aos Hebreus, Tiago, II Pedro e II e II João. Além disso, muitos livros que hoje não figuram no Cânon, vez por outra em determinados locais eram incluídos na lista normativa de livros, alguns deles são: Didaquê, a carta de Clemente aos Coríntios, o pastor de Hermas, a epístola de Barnabé (estes livros constituem hoje parte importante do estudo da Patrologia, e, são denominados os Pais Apostólicos). A primeira carta que chegou até nós contendo a atual configuração dos livros canônicos foi de Atanásio, bispo de Alexandria em 367 d.C. Por intermédio de um lento consenso, que o Novo Testamento foi agrupado e reconhecido como Inspirado. As principais metodologias de reconhecimento, além das que anteriormente foram citadas, foram: 1 – A autoria apostólica e 2 – A experiência por meio de um longo uso na comunidade cristã.

Livros Apócrifos: do grego “apokrufoV” (“escondido, oculto, longe de”) refere-se em termos práticos há alguns livros, epístolas, evangelhos, enfim, algumas composições adicionais ao Antigo e Novo Testamento, sem, contudo, receber o reconhecimento, por parte de protestantes e judeus, como canônicas. Em relação ao Antigo Testamento existem 14 escritos apócrifos (15 se separamos a Epístola de Jeremias de Baruque), que com exceção de II Esdras compreendem o período de Malaquias até Mateus. Sobre eles Flávio Josefo escreveu: “Desde Artaxerxes até nossa época, tudo tem sido registrado, mas nada foi considerado digno do mesmo crédito das obras do passado, visto que a sucessão exata de profetas cessou”. O Talmude comenta a questão nos seguintes termos: “Até esta altura (século IV) os profetas profetizavam mediante o Espírito Santo; a partir desta época inclinai os vossos ouvidos e ouvi as palavras dos sábios” (Seder Olam Rabba, 30). Agostinho (354-430 d.C.) foi o responsável, no ocidente, por elevar ao clímax a aceitação dos livros apócrifos ao atribuir-lhes a categoria de canônicos. Mas não foi antes do concílio pós-Reforma realizado em Trento no ano de 1546 d.C. que os canônicos atingiram definitivamente o status de canônicos, nesta ocasião foi declarado o seguinte: “O sínodo recebe, venera todos os livros do Antigo e do Novo Testamento [o que inclui os apócrifos] entendendo que um único Deus é o autor de ambos os testamentos... se alguém não receber tais livros como sagrados... seja anátema”.

Bibliografia

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. Vários tradutores. 1ª edição. São Paulo, Vida Nova: 1999. P. 1046.
LATOURETTE, Kenneth Scott. Uma História do Cristianismo. Trad. Heber Campos. 1ª edição. Volume I. São Paulo, Hagnos: 2006. P. 923.

GEISLER, Norman. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia. Trad. Milton Azevedo Andrade. 1ª edição. São Paulo, Mundo Cristão: 1999. P. 383.

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